Jocelyne Saab começa a sua carreira como jornalista e repórter de guerra para a televisão francesa, mas com o início da Guerra do Líbano regressa a Beirute. Estas obras, realizadas entre as décadas de 70 e 80, documentam a linha da frente das várias formas de resistência daqueles povos e ajuda-nos a compreender a realidade da Palestina e do Líbano.
A importância da cineasta nasce da coragem de mostrar um mundo refém de guerras – com o olhar de uma mulher sobre mulheres, além do registo histórico de conflitos que duram até hoje no Médio Oriente.
Saab foi várias vezes perseguida e censurada pelo seu trabalho. Foi perseguida depois de “Les enfants de la guerre” ter sido transmitido em horário nobre, na televisão francesa. O seu filme “Les Femmes Palestiniennes”, embora encomendado por esta, nunca foi transmitido.
Em 1982, o arquivo de filmes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) é destruído pelo exército israelita durante um bombardeamento em Beirute. O trabalho da cineasta torna-se assim fundamental para não esquecer os anos de resistência do povo palestiniano que, além do massacre da sua população, vive há décadas um apagamento da sua história.
Esta sessão é apenas uma pequena amostra da produção de Saab, que se tornou precursora do novo cinema libanês dos anos 70 e uma referência no cinema de resistência.
Em exibição de 31 outubro a 06 de novembro, no Auditório Salgado Zenha e Casa de Cinema de Coimbra.
Horários disponíveis em breve.
Les Enfants de la guerre
1976 — França — 12’
Dias depois do massacre de Karantina num bairro de lata maioritariamente muçulmano de Beirute, Jocelyne Saab encontrou crianças que conseguiram escapar e que estavam profundamente traumatizadas pelos combates atrozes que viram com os próprios olhos. Deu-lhes lápis de cera e encorajou-as a desenhar enquanto a câmara filmava. Descobriu que as crianças só jogavam jogos de guerra e que a guerra rapidamente se tornaria numa forma de vida para elas.
Les Femmes palestiniennes
1974 — França — 15’
Jocelyne Saab dá aqui voz às mulheres palestinianas, as vítimas frequentemente esquecidas da guerra Israelo-Palestiniana. O filme resulta de uma encomenda da Antenne 2 (França), mas foi censurado ainda durante a montagem e nunca exibido.
Le Front du refus
1975 — França — 13’
Quando a paz se revela impossível, todos os meios se justificam na defesa de uma causa política. É isso que argumentam os comandos suicidas que actuam na fronteira que separa os Territórios Palestinianos do país que recusam aceitar como Israel. Jocelyne Saab foi a primeira jornalista a poder filmar esses adolescentes, com idades entre os 16 e os 20, que treinam todos os dias numa base secreta subterrânea para se tornarem comandos suicidas.
Le Bateau de l’exil
1982 — França, Líbano — 17’
Após viver clandestinamente em Beirute para eludir as forças israelitas, o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, deixou o Líbano a bordo do Atlantis para um novo exílio na Grécia e, depois, em Tunes. Ele fala sobre o seu destino e o futuro da OLP. Saab foi a única jornalista munida de uma câmara aceite a bordo.