O Cinema soviético voltou às salas de cinema com as obras da realizadora soviética Kira Muratova, pela primeira vez em Portugal e na sua versão restaurada em 4K, “Breves Encontros” de 1967 e “O Longo Adeus” de 1971.
O seu primeiro filme, Breves Encontros, é sobre um triângulo amoroso, entre os três personagens centrais da história, um deles interpretado pela própria Kira Muratova.
Aqui encontramos vários pontos interessantes que surgem também no seu outro filme. Os planos em Breves Encontros, são, ainda que bem pensados, não muito bem executados, à exceção da tonalidade monocromática, o preto e o branco, explorada para dar uma ilusão de tempo passado. A história do triângulo amoroso torna-se bastante superficial. Há momentos em que a correlação passado-presente é bem feita, nomeadamente através da guitarra, instrumento este que a personagem masculina tocava no passado e que encontramos agora, com as cordas partidas, na parede da casa de Valentina Ivanovna.
Já no seu segundo filme, “O Longo Adeus” sente-se um trabalho mais atento e aprofundado com as personagens, a fotografia está muito bem conseguida, tal como a banda sonora, que é bem elaborada e trabalhada em momentos chave. Este filme vai contar a história de uma mãe que deseja manter o seu filho por perto, ao contrário dele, que sonha em reencontrar-se com o pai. O filme mostra ainda o medo e a vulnerabilidade desta mãe de perder o filho e, portanto, ficar sozinha.
A forma como nos é apresentada a relação entre mãe e filho faz-nos crer que esta é uma relação que funciona, apesar dos seus percalços. É quando percebemos que o filho quer reencontrar-se com o pai, que a personagem da mãe entra num lugar de grande vulnerabilidade e angústia pela possibilidade de ficar sozinha.
Ambos os filmes brilham ao debruçar-se sobre o papel da mulher na sociedade soviética, o próprio realismo soviético, em “Breves Encontros”, a questão da habitação social e em “O Longo Adeus” as festas onde os trabalhadores eram premiados pelo seu desempenho, numa reflexão sobre o contexto laboral.
Critíca por:Guilherme Paiva