Sofia Coppola tem-nos revelado, ao longo dos anos, formas diferentes de ver o cinema. Criou um género muito próprio, habituando assim um nicho de cinéfilos a um certo tipo de linguagem ora artística, ora controversa. Do inesquecível e inabalável ‘Virgens Suicidas’ (1999), ao dos seus últimos ‘Marie Antoinette’ (2006), parece que nos testa a nós, espectadores, ao mesmo tempo que ensaia os seus limites de realizadora.
‘Bling Ring’ apresenta-nos um novo modelo para Coppola: aborda uma realidade juvenil inconformada em Los Angeles, que cumula práticas de crimes de pequena ou média gravidade (furtos a casa de celebridades). O motivo é aquele que une a maioria dos jovens de todo o mundo, que é a tentativa da integração. O mundo em que se tentam integrar é distinto, mas a verdade é que o motivo e toda moral se encontra lá com toda a precisão: bullying, drogas, máscaras sociais e até o facebook. Coppola parece que agarra o primeiro tema que lhe apareceu à mão e o filmou sem hesitar, parecendo – do ponto de vista de um apreciador da realizadora – que ela de alguma forma se identifica com esta realidade de tentar ser aquilo que não é. Integrando-se forçosamente no mundo da fama, do poder, do dinheiro.
Um filme baseado num artigo de uma revista cor-de-rosa, mostra-nos então o dia-a-dia destes jovens larápios, que têm uma vida de sonho do ponto de vista social. Sofia Coppola rasga-nos um sorriso irónico, por vezes, à base educacional destes jovens, que apesar de toda esta vida luxuosa, têm uma base educacional vergonhosa (ora na escuma das escolas de LA, ora tendo ensino em casa sob a égide do livro ‘O Segredo’, tão em voga hoje em dia).
Deve-se alertar, porém, que este não é um típico filme-crítica. Este não é, de todo, um filme difícil. É um filme que se vê de braços cruzados com uma facilidade incómoda, tal qual o desembaraço dos protagonistas em entrar nas casas dos ditos famosos (Paris Hilton, Orlando Bloom, Lindsay Lohan, etc): utilizando o Google como arma de assalto, buscando moradas e encontrando portas abertas pelos próprios proprietários. É portanto um filme sem qualquer tipo de acção, sem suspense, sem mensagem escondida: tem um início preciso, um meio conciso e um final sucintamente esperado pelo espectador. Não é Sofia Coppola! Sofia não é esta realizadora que mistura hiphop, discotecas nocturnas, adolescentes aborrecidos, Paris Hilton e saltos altos com calças apertadas! Esta não é uma crítica escondida a Hollywood como em ‘Somewhere’ (2010), em que o nosso complexo protagonista Johny Marco sofre de uma crise existencial. Em ‘Bling Ring’ não corremos em busca de banda sonora como em ‘Virgens Suicidas’ (lembrar o eterno ‘Playground Love’ de Air). O sumo do último filme de Coppola é uma moral juvenil como muitos outros, não trazendo nada de novo e sendo um pouco decepcionante para quem, como eu, gosta da realizadora.
Talvez o nome do filme ‘Bling Ring’, seja o som do badalo para chamar Sofia Coppola de volta para o caminho da realização.
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J.R.P.