Curso Breve “Cinema de⁄em Coimbra”

Design de Jorge Silva

A rela­ção da cida­de de Coim­bra com a sua Aca­de­mia é fei­ta de uma sim­bi­o­se par­ti­cu­lar. Pro­gres­so e Tra­di­ção andam de mãos dadas com o espí­ri­to irre­ve­ren­te dos estu­dan­tes e os amo­res des­per­ta­dos nas tri­ca­nas. Atra­vés do Cine­ma que­re­mos dar a conhe­cer algu­mas pers­pec­ti­vas sobre esta rela­ção olhan­do ao pas­sa­do e ao pre­sen­te per­ce­ben­do que futu­ro terão as pra­xis da nos­sa Universidade.

Numa via­gem no tem­po, em três déca­das dis­tin­tas, pro­mo­ve-se um olhar sob os espa­ços da aca­de­mia e da cida­de ocu­pa­dos com outras vivên­ci­as que não as de hoje. Pro­vo­ca-se então o espec­ta­dor “a ser estran­gei­ro na sua ter­ra” e vir viver, cine­ma­to­gra­fi­ca­men­te, um outro tem­po, uma outra realidade. 

As ses­sões decor­re­rão no Mini-Audi­tó­rio Sal­ga­do Zenha, piso 0 da AAC. A par­ti­ci­pa­ção no cur­so é gra­tui­ta à excep­ção da Mas­ter­class, cuja par­ti­ci­pa­ção é sujei­ta à ins­cri­ção. Estão isen­tos os Asso­ci­a­dos e os Estu­dan­tes dos Cur­sos de Cine­ma­lo­gia, Design e Mul­ti­mé­dia e Estu­dos Artísticos. 

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21 de Maio, 21h45 — módulo I

Capas Negras, de Armando Miranda (1947), 103′

Um amar­go e como­ven­te melo­dra­ma de sabor coim­brão sobre o caso de amor entre uma bela tri­ca­na e um estu­dan­te de Direi­to, que foi um estron­do­so êxi­to nos anos 40, com Amá­lia Rodrigues

Em Coim­bra o “quin­ta­nis­ta” de Direi­to, José Duar­te, e a bela tri­ca­na, Maria de Lis­boa, vivem uma inten­sa his­tó­ria de amor. Ter­mi­na­do o cur­so e jul­gan­do-se traí­do, José Duar­te aban­do­na Maria e vai para o Por­to. Recu­sa-se a acei­tar as car­tas dela e esta aca­ba por ser pre­sa no Por­to pelo aban­do­no do filho. José Duar­te deci­de defen­de-la, reco­nhe­cen­do ao mes­mo tem­po, ser o pai da criança. 

Arman­do Miran­da rea­li­zou em 1947 “Capas Negras”, um dos mai­o­res êxi­tos de bilhe­tei­ra de sem­pre do cine­ma por­tu­guês. Tra­ta-se de um amar­go e como­ven­te melo­dra­ma de sabor coim­brão sobre o caso de amor entre uma bela tri­ca­na e um estu­dan­te de Direi­to, de que resul­ta um filho e gera mui­tas atri­bu­la­ções para a rapa­ri­ga até que tudo aca­be bem para todos. Um pito­res­co fil­me, reche­a­do de amor, músi­ca e nobres sen­ti­men­tos, que Amá­lia Rodri­gues domi­na com a sua fas­ci­nan­te pre­sen­ça e incon­fun­dí­vel voz.

23 de Maio, 21h45 — módulo II

Rasganço, de Raquel Freire (2001), 100′

L’art et l’a­mour sont cri­mi­nels en puis­san­ce — ou ne sont pas”. 

Paul Valéry

Coim­bra, a mais com­ple­xa de todas as per­so­na­gens, con­ta a história:

Eu não sou uma cida­de. Sou uma estu­fa. Uma reser­va natu­ral para estu­dan­tes, onde eles vivem em ple­na liber­da­de, como aque­las que há para ani­mais frá­geis, raros. 

Em mim estão pro­te­gi­dos do mun­do exterior. 

Sou uma espé­cie de doce, entre a ado­les­cên­cia e a ida­de adul­ta. Mas só para os que estu­da­ram para cá entrar. Os melhores. 

Eles sabem que são uma eli­te. E que nin­guém fica em mim para sempre… 

Uma manhã de Janei­ro che­gou um homem. 

Tolo, não per­ce­beu que EU não sou para quem quer, mas para quem pode. E ele não fazia parte. 

Subiu as minhas Esca­das Monu­men­tais, per­cor­reu a minha Ave­ni­da das Facul­da­des, entrou na mais anti­ga e depa­rou comum “ras­gan­ço”.

Este homem sedu­ziu as minhas três mulhe­res: Ana Rita, estu­dan­te bur­gue­sa; Maria dos Anjos, a estu­dan­te que veio da aldeia; Dou­to­ra Zita Por­tu­gal, a ilus­tre directora. 

Todas o amam, nenhu­ma sabe das outras, ele ado­ra aqui­lo tudo.

Mas não é o amor que abre as minhas velhas portas. 

Nes­te auto, que se desen­ro­la em for­ma de espi­ral de insec­to enca­de­a­do pela luz, de manei­ra cada vez mais vio­len­ta, este homem vai sen­do suces­si­va­men­te sedu­zi­do e rejei­ta­do pelas pes­so­as, pelos síti­os, pelos cos­tu­mes, por todas as mani­fes­ta­ções da minha intri­ca­da teia de fas­cí­ni­os e decep­ções, supe­ri­or­men­te regi­da pela Universidade.

Excluí­do, usa sím­bo­los para gri­tar o ódio con­tra mim, per­ver­te-os. Ves­te o tra­je aca­dé­mi­co e rap­ta, vio­la, ras­ga no pei­to das estu­dan­tes os meus nomes… 

A vin­gan­ça qua­se me destrói. 

Assa­nham-se os âni­mos, as lutas estu­dan­tis em cur­so sofrem uma ines­pe­ra­da revi­ra­vol­ta, nin­guém sabe quem é quem, nin­guém con­fia em nin­guém, nada é o que parece.

Enquan­to ele, imper­tur­bá­vel, vai “ras­gan­do” víti­ma atrás de vítima. 

Ani­mal feri­do, o seu negro domina‑o, até o tor­nar inca­paz de fazer o que melhor sabe fazer: amar. 

O rápi­do des­fe­cho, como nas ópe­ras de Ver­di, dá-se em ambi­en­te apo­teó­ti­co de subi­da de Esca­das Monu­men­tais, com estu­dan­tes em fes­ta para “ras­ga­rem” ceri­mo­ni­al­men­te a jovem fina­lis­ta namo­ra­da dele, denún­cia silen­ci­o­sa da par­te da velha dama de impe­cá­vel linha­gem aca­dé­mi­ca, e cha­mas devo­ra­do­ras ate­a­das pela reca­ta­da Assis­ten­te Soci­al da província.

28 de Maio, 21h45

Amor de Perdição, de Manoel de Oliveira (1979) , 262′

Base­a­do no mais famo­so roman­ce de Cami­lo Cas­te­lo Bran­co, Mano­el de Oli­vei­ra rea­li­za este fil­me que tem como base um tri­ân­gu­lo amo­ro­so.
No iní­cio do sécu­lo XIX, Simão Bote­lho e Tere­sa de Albu­quer­que, per­ten­cen­do a duas famí­li­as rivais, amam-se apai­xo­na­da­men­te. Tere­sa está pro­me­ti­da a um pri­mo seu, Bal­ta­zar Cou­ti­nho. A jovem deci­de entrar num con­ven­to. Simão mata Bal­ta­zar e é pre­so. O pai, magis­tra­do, recu­sa-se aju­dá-lo por não lhe per­do­ar amar a filha do seu pior ini­mi­go. Das res­pe­ti­vas celas, Simão e Tere­sa cor­res­pon­dem-se por escri­to, com a aju­da de Mari­a­na (uma jovem cri­a­da que ama secre­ta­men­te Simão).

30 de Maio, 21h45

MasterClass “Cinema de/em Coimbra”, leccionada por Fausto Cruchinho Pereira

  • o cine­ma que se faz sobre Coimbra
  • o cine­ma que se faz em Coimbra
  • Capas Negras”, “Ras­gan­ço” e “Amor de Per­di­ção”: a uni­ver­si­da­de do cinema
  • Amor de Per­di­ção”: Mano­el de Oli­vei­ra e Cami­lo Cas­tel­lo Bran­co estu­dan­tes da universidade

Fausto Cruchinho Pereira
(Universidade de Coimbra)

Fausto Cruchinho

Dou­tor em Estu­dos Artís­ti­cos, área de espe­ci­a­li­za­ção em Estu­dos Fíl­mi­cos e da Ima­gem, pela Uni­ver­si­da­de de Coim­bra Pro­fes­sor Auxi­li­ar da Facul­da­de de Letras da Uni­ver­si­da­de de Coim­bra. Cur­so de Estu­dos Artís­ti­cos. Inves­ti­ga­dor Inte­gra­do do Cen­tro de Estu­dos Inter­dis­ci­pli­na­res do Sécu­lo XX (CEIS20) da Uni­ver­si­da­de de Coim­bra. Gru­po Cor­ren­tes Artís­ti­cas e Movi­men­tos Intelectuais.

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