Eis que chegou, finalmente, ao Festival Caminhos do Cinema Português, “Pedro e Inês” de António Ferreira a mais bela história de amor alguma vez conhecida em Portugal, contada em três épocas diferentes. A sala estava cheia. Cheia de olhares curiosos e intrigados para a ver recriada no grande ecrã. Adaptada do romance de Rosa Lobato de Faria, “A Trança de Inês”, a lenda não podia ter sido representada de forma mais arrepiante.
“Pedro e Inês”, a história de amor que se tornou no filme mais visto do ano foi também ele produto da persistência de um casal. Com a realização de António Ferreira e coprodução de Tathiani Sacilotto, sua esposa, foi ao longo de dez anos que se construiu uma nova abordagem narrada no passado (Idade Média), presente e futuro (distópico).
“Um marco importante para a viragem dos jovens para o cinema português” foi o impacto defendido pela atriz Cristina Janicas. Inspirado no livro “A trança de Inês” de Rosa Lobato de Faria, cuja narrativa história se apresenta como primeiro plano, foi com a dedicação da Diretora de Arte, Luísa Bebiano , que a narrativa visual adquiriu o seu foco. De forma simbólica o pássaro, que surge nas três épocas, simboliza “o que quer voar e não pode”, explica a Diretora de arte.
Quem vê o filme não lhe fica indiferente. Contudo, suscitam dúvidas inerentes à complexidade da narrativa e da forma como a história está a ser contada. Assim, como nos explica Luísa Bebiano, esse era o objetivo, “haver sempre aquela dúvida propositada entre o real e o subconsciente e perceber até que ponto o nosso imaginário consegue criar histórias”.
Um amor intemporal que acabou de forma trágica, “não alterando muito de Romeu e Julieta”. A única diferença é que “ele não morreu, mas acabou por morrer”, uma vez que, passou apenas a sobreviver, segundo a diretora de arte. Acredita que, no caso de Pedro e Inês, “o amor é dor e aquela impossibilidade de amar é paixão”. Viveram um amor de tal forma impossível que, quando se concebeu, terminou.
Questionada sobre o modo como o amor continua a ser uma temática de sucesso, Glória Marques Ferreira, co-argumentista do filme, afirmou que “qualquer forma de comunicação passa pelo sentimento”. O espetador absorve qualquer uma das narrativas “pela relação afetiva que cria pelas coisas”, explica a investigadora.
Uma trama contada através da conjugação das vertentes histórica, visual e sonora, que pretende transmitir a intemporalidade do amor e dos sentimentos. De tal forma poderoso que nos é possível sentir a história como nossa. As imagens são explicitamente pesadas, contribuindo também para a envolvência do conteúdo.
De acordo com Luísa Bebiano, “o futuro distópico é a parte mais conseguida e a menos conseguida, ao mesmo tempo”. Isto, porque a “ideia era recriar um futuro apocalíptico, de forma a fugir da realidade civil”, de modo a mostrar que “todas as sociedades, mesmo as que fogem a todos as convencionalidades, têm problemas”.
Com a presença de Diogo Amaral, ator que desempenhou a personagem principal, Pedro, foi nas suas palavras que se ouviu falar da “riqueza deste desafio”. Uma ação repetida no tempo que ao citar a própria escritora do livro, Glória Marques Ferreira, explicou que “enquanto a história não for aprendida, enquanto não tiver um final feliz, tem de se repetir”.
Uma história extremamente arrepiante, intensa, capaz de nos transportar para aqueles loucos corações apaixonados. Uma mulher, Inês, “de beleza e sura cósmica”, embriagou um homem, Pedro, com o “seu espírito” e, juntos, caminharam “pelas ruas da eternidade”.
Ana Sofia Neto e Rita Flores
Saiba mais na seguinte ligação: Repetir até que a história tenha um final feliz.