A acção decorre em três dias e três noites, num quarto de uma casa na Rua dos Douradores, em Lisboa. Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, é um homem solitário e atormentado que vai anotando os seus pensamentos e angústias num livro, que intitula de “Livro do desassossego”…
Realizado por João Botelho, uma adaptação cinematográfica da mais autobiográfica obra de Fernando Pessoa, teve o apoio do Ministério da Cultura/Ica, Câmara Municipal de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Rádio e Televisão de Portugal.
É exibido no Mini-Auditório Salgado Zenha no próximo dia 2 de Novembro às 22:00. A entrada é livre.
Introdução Histórica
João Botelho rodou em Lisboa «O filme do desassossego», a sua versão para cinema de «O livro do desassossego», de Fernando Pessoa, uma «teoria sobre os sonhos» que privilegia a palavra.
No Arquivo Histórico do Exército, em Lisboa, por entre longos e apertados corredores, João Botelho recria o escritório de Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, semi-heterónimo de Fernando Pessoa e autor de «O livro do Desassossego».
Sentado a uma mesa está o actor Cláudio da Silva, protagonista neste filme intemporal sobre um homem complexo, solitário, que anotou os seus pensamentos no fragmentado livro do desassossego.
Dada a complexidade do texto de Pessoa, um livro em aberto, disperso, João Botelho sabia que tinha pela frente um projecto difícil.
«É demente, toda a gente diz que é impossível adaptar O Livro do Desassossego
. É um disparate louco, mas é sobretudo uma coisa que tentei preservar: o texto é mais importante que tudo», disse João Botelho.
Apesar da complexidade, João Botelho encontrou no texto algumas indicações cinematográficas.
«Este texto só funciona lido em voz alta. Tem uma camada de música por cima da camada do sentido» e Pessoa escreveu ainda que «devem iluminar-se os sapatos das pessoas normais com a mesma luz com que se ilumina a cara dos santos», referiu.
Meticuloso com o jogo de luz e sombra, João Botelho revelou que para «O filme do desassossego» procurou pintores contemporâneos, como Gherard Richter e Lucian Freud, e manteve-se fiel ao contraste claro/escuro.
«Acho que o cinema é luz e sombras e as pessoas à rasca no meio delas, sempre», defendeu.
Filme sobre a palavra, que João Botelho mantém praticamente inalterada a partir do texto original, «O filme do desassossego» é também sobre um homem, Bernardo Soares.
«Não tem data de nascimento nem de morte, tinha a mesma profissão do Fernando Pessoa, ajudante de guarda-livros, vivia num quarto modesto, podia ter escrito tudo sem sair do quarto».
O filme, que conta com as participações de Cláudio Silva, Rita Blanco, Alexandra Lencastre, Miguel Guilherme, Catarina Wallenstein, Caetano Veloso, Lula Pena e a fadista Carminho; não será exibido, por exigência do realizador, em qualquer sala de cinema nos centros comerciais.