Hoje merece ainda destaque a animação “Macabre” de Jerónimo Rocha e João Miguel Real. Sendo iniciado por um acidente de carro para escapar de um animal selvagem, K. depressa é forçado a entrar num serão soturno e labiríntico, com claras influências Kafkianas. Há um processo infindável e uma metamorfose contínua, uma ideia de vida/existir inextricável (mas constantemente iniciática) marcada pelo processo da morte. Morte aqui representada por uma descida (ou queda) e pela busca constante do Eu, que por vezes é aquele que nos mata.
Ainda dentro da temática do tempo, do espaço e cumulativamente da sua ausência ou capacidade de os saltar, encerramos o dia com “Gelo” de Luís e Gonçalo Galvão Teles. É a existência de dois filmes dentro do mesmo, recheado pelo mistério e ficção científica. O entrelaçar de duas vidas, a do amor ao cinema e a da vida aparentemente eterna. Sendo o filme sobre escape, há a fuga do amor e a possibilidade de o (re)encontrar num espaço não físico como o onírico, que acaba por ser semelhante ao mundo interior despertado pelo cinema.
Mais um dia em que se vê o cinema português celebrado. Mais um dia de novidade para o espectador.
Até já,
João R. Pais,
Selecção Caminhos
— Originalmente publicado em http://j.mp/2fIIVHx