O início da lenda e o lendário final

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Recen­te­men­te na Casa do Cine­ma de Coim­bra este­ve em exi­bi­ção a pri­mei­ra lon­ga-metra­gem e a últi­ma gran­de obra do len­dá­rio rea­li­za­dor japo­nês Hayao Miyazaki.

Come­çan­do pelo pri­mei­ro lon­ga Lupin III: O Cas­te­lo de Cagliostro.

Lupin é um ladrão que, com o seu ami­go, rou­ba ban­cos até que a ambi­ção o leva ao cas­te­lo onde vive uma prin­ce­sa — Lady Clar­ri­se, cas­te­lo esse que guar­da um gran­de segre­do. Nes­te pri­mei­ro fil­me, Miya­za­ki não nos apre­sen­ta a uni­ver­sos fan­ta­si­o­sos que, pos­te­ri­or­men­te, nos vem a habi­tu­ar, como em “A Via­gem de Chihi­ro” ou até em “Cas­te­lo Andan­te”. Lupin tem uma his­to­ria bem con­so­li­da­da e a ani­ma­ção, como em todos os fil­mes do rea­li­za­dor, é extre­ma­men­te boni­ta. É, de fac­to, um óti­mo pon­to de par­ti­da para a fil­mo­gra­fia do mes­mo, nada se sen­te per­di­do e todas as per­so­na­gens estão mui­to bem cons­truí­das, des­de a mis­te­ri­o­sa per­so­na­gem femi­ni­na, ao espa­da­chim, o ami­go de Lupin, pas­san­do pelo polí­cia, o vilão, a prin­ce­sa e o pró­prio Lupin. É um his­tó­ria sóli­da com um enre­do que fun­ci­o­na mui­to bem. De des­ta­car tam­bém a ban­da sono­ra, que nes­te fil­me é essen­ci­al em todos os momen­tos, enri­que­cen­do-os de for­ma perfeita.O final do fil­me é extre­ma­men­te con­gru­en­te, pois fecha todas as pon­tas que o fil­me tinha dei­xa­do em aber­to, vol­tan­do ao pon­to ini­ci­al, a fuga do ladrão e dos seus amigos.

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Falan­do ago­ra do últi­mo fil­me, O Rapaz e a Garça:

O MAGNUS OPUS DO LENDÁRIO HAYAO MIAZAKI

Ven­ce­dor do Pré­mio Melhor Fil­me de Ani­ma­ção nos Ósca­res, em 2024, o fil­me Rapaz e a Gar­ça, bri­lha em todos os aspe­tos, enre­do, ani­ma­ção e até ban­da sono­ra, com­pos­ta por Joe Hisaishi, que já tinha com­pos­to as ban­das sono­ra de “A Via­gem de Chihi­ro”, “O Cas­te­lo Andan­te”, “A Prin­ce­sa Mono­no­ke”, entre outros. A his­tó­ria come­ça com Mahi­to a acor­dar sobres­sal­ta­do com o incên­dio no hos­pi­tal onde a mãe tra­ba­lha. Mahi­to ten­ta sal­var a mãe, mas não con­se­gue. É então leva­do para um aldeia fora de Tóquio onde vai viver com o seu pai e a sua namo­ra­da, três anos após a tra­gé­dia. Nes­ta aldeia fora de Tóquio, ele é cons­tan­te­men­te per­se­gui­do por uma gar­ça bas­tan­te pecu­li­ar. O fil­me gira em tor­no do sen­ti­men­to de per­da e do luto incon­tor­ná­vel que fazem com que o fil­me seja bas­tan­te den­so, com um gran­de peso emo­ci­o­nal. O fil­me toca-nos como pou­cas obras con­se­gui­ram tocar e, mais uma vez, a união de Miya­za­ki, na rea­li­za­ção, e Hisaishi, na com­po­si­ção sono­ra, con­ti­nua a dar pro­vas de admi­ra­ção. De real­çar ain­da os belís­si­mos visu­ais des­te fil­me, com cenas que pare­cem autên­ti­cas obras de arte, como se de pin­tu­ra em movi­men­to se tratasse.

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De relem­brar que o fil­me con­ti­nua em exi­bi­ção na Casa do Cine­ma de Coimbra.

UM OLHAR SOBRE O LEGADO DE MIYAZAKI

O fac­to de Miya­za­ki con­ti­nu­ar fiel ao seu regis­to (des­de Lupin) demons­tra a gran­de evo­lu­ção na sua for­ma de tra­ba­lhar. Ago­ra, ao olhar para trás e ver o pri­mei­ro fil­me (Lupin III) a par com o últi­mo (O Rapaz e a Gar­ça), sem esque­cer os que foram fei­tos entre ambos, tor­na cla­ro o quão impac­tan­te foi e é a sua ani­ma­ção e a rique­za das his­tó­ri­as (des­de a pri­mei­ra até à últi­ma). A evo­lu­ção é notá­vel e mui­to inte­res­san­te. De fac­to, nos dias de hoje, Miya­za­ki é um nome extre­ma­men­te bem con­so­li­da­do, e se esta for defi­ni­ti­va­men­te a sua últi­ma obra, pode­mos des­pe­dir­mo-nos de Miya­za­ki nos cine­mas com uma sen­sa­ção de extre­ma ale­gria e satis­fa­ção, por­que tal como outros gran­des o fize­ram (David Lyn­ch, Kubrick, Ozu, a gran­de Agnes Var­da, mas tam­bém nomes naci­o­nais como João Cesár Mon­tei­ro ou até Mano­el de Oli­vei­ra) aca­bar des­ta for­ma não é para todos, mas todos o fize­ram, e Miya­za­ki não é exceção.

Escri­to por:Guilherme Paiva