Para redescobrir “Gestos & Fragmentos”

Cinema portugus 

No site da Cinemateca Portuguesa, h uma oferta muito diversificada de materiais, desde os filmes at aos documentos escritos: “Gestos & Fragmentos”, de Alberto Seixas Santos, um dos ttulos a redescobrir.

Será um facto insólito, mas não deixa de ser um facto: na situação de confinamento que todos estamos a viver, tem sido possível (re)encontrar vários títulos da produção cinematográfica portuguesa, susceptíveis de nos ajudar a reflectir sobre a nossa história colectiva, seus constrastes e convulsões.

Entre os fil­mes dis­po­ní­veis (nes­te caso, em aces­so gra­tui­to), vale a pena des­ta­car um dos mais notá­veis — e tam­bém mais raros — que se fize­ram em tor­no do 25 de abril, suas raí­zes e con­sequên­ci­as. Cha­ma-se “Ges­tos & Frag­men­tos” (1982), tem assi­na­tu­ra de Alber­to Sei­xas San­tos (1936–2016) e é uma das ofer­tas do site da Cine­ma­te­ca Por­tu­gue­sa (até dia 7 de maio); aliás, sur­ge colo­ca­do numa zona a que foi dada, jus­ta­men­te, a desig­na­ção glo­bal de ‘Ges­tos & frag­men­tos’, com diver­sos mate­ri­ais, das ima­gens aos tex­tos escri­tos, para este tem­po de reclusão. 

Reflec­tin­do, em par­ti­cu­lar, sobre os acon­te­ci­men­tos do 25 de novem­bro de 1975, o fil­me de Sei­xas San­tos envol­ve um invul­gar desa­fio de lin­gua­gem, uma vez que se vai arqui­tec­tan­do como um metó­di­co vai-vém entre “docu­men­tá­rio” e “fic­ção”. Mais exac­ta­men­te: depa­ra­mos com duas per­so­na­gens verí­di­cas, Edu­ar­do Lou­ren­ço e Ote­lo Sarai­va de Car­va­lho, recor­dan­do e comen­tan­do o pós-25 de abril; com eles se cru­za, no inte­ri­or da nar­ra­ti­va, o cine­as­ta ame­ri­ca­no Robert Kra­mer (1939–1999), inter­pre­tan­do a figu­ra ima­gi­ná­ria de alguém que inves­ti­ga o que se sabe, e tam­bém o que se espe­cu­la, sobre o 25 de novembro. 

Mais do que uma mera evo­ca­ção fac­tu­al, “Ges­tos & Frag­men­tos” exis­te como um pai­nel de dis­cus­são das pró­pri­as for­mas de apro­pri­a­ção dos fac­tos, quer dizer, da orga­ni­za­ção daqui­lo a que damos o nome de his­tó­ria. De tal modo que nos con­vo­ca para uma refle­xão mul­ti­fa­ce­ta­da sobre o fim da dita­du­ra do Esta­do Novo e a emer­gên­cia da demo­cra­cia — pon­to reve­la­dor: o fil­me tem como sub­tí­tu­lo “Ensaio sobre os mili­ta­res e o poder”. 

Isto sem esque­cer que (tam­bém até 7 de maio) a Cine­ma­te­ca dis­po­ni­bi­li­za ain­da uma cópia de um fil­me de pro­pa­gan­da do Esta­do Novo, essen­ci­al para com­pre­en­der as suas rela­ções com o uni­ver­so cine­ma­to­grá­fi­co: “A Revo­lu­ção de Maio” (1937), de Antó­nio Lopes Ribeiro. 
por Joo Lopes
publi­ca­do 17:46 — 03 maio ’20 

Recomendamos: Veja mais Artigos de Cinema Portugus

Fon­te.