Vicente Alves do Ó é um cineasta com uma evolução muito peculiar, no sentido em que foi gradualmente criando e evoluindo um nome e respectiva marca de autor através dos trabalhos de bastidores. Através de guiões para telefilmes como “Monsanto” de Ruy Guerra ou “Facas e Anjos” de Eduardo Guedes, eventualmente inovou a sua lírica para o grande ecrã, onde assinou os argumentos para grandes sucessos de bilheteira como “Os Imortais” de António-Pedro Vasconcelos e “Kiss Me” António da Cunha Telles. Em 2005, dá o grande salto para a cadeira de realizador com a curta “Entre o Desejo e o Destino” e tal assento revela-se imediatamente confortável na sua faceta de esteticista narrativo. Isto porque apesar dos seus primórdios se situarem na escrita, Alves do Ó afirma-se acima de tudo como um autor com o visual em primeiro plano.
E é precisamente tal salto que lhe permitiu ir exercitando, de curtas para longas metragens, a lente em tons muito próprios e distintos do cinema português, quase que ao nível do estilo americano, com toda a pompa e circunstância sumptuosas das produções Hollywoodescas. No entanto, sem descurar a sua origem e o seu caracter nacional, apesar de muitos acusarem o seu recurso ao cinema norte-americano enquanto um ardil superficial para seduzir o público português. Embora tal prisma se compreenda, não se deve resumir a cadência expositiva do realizador a uma mera isca, pois os seus filmes (sobretudo as longas), centrando-se embora nos panoramas cuidados, revelam substanciais no que toca ao teor temático das premissas que aborda. Veja-se o caso dos exercícios biográficos sobre Al Berto ou Florbela Espanca, que requerem necessariamente um olhar não necessariamente poético, mas sim que é leitor da poesia.
Saiba mais na seguinte ligação: Crónica do Festival – Parte VIII.