A relação da cidade de Coimbra com a sua Academia é feita de uma simbiose particular. Progresso e Tradição andam de mãos dadas com o espírito irreverente dos estudantes e os amores despertados nas tricanas. Através do Cinema queremos dar a conhecer algumas perspectivas sobre esta relação olhando ao passado e ao presente percebendo que futuro terão as praxis da nossa Universidade.
Numa viagem no tempo, em três décadas distintas, promove-se um olhar sob os espaços da academia e da cidade ocupados com outras vivências que não as de hoje. Provoca-se então o espectador “a ser estrangeiro na sua terra” e vir viver, cinematograficamente, um outro tempo, uma outra realidade.
As sessões decorrerão no Mini-Auditório Salgado Zenha, piso 0 da AAC. A participação no curso é gratuita à excepção da Masterclass, cuja participação é sujeita à inscrição. Estão isentos os Associados e os Estudantes dos Cursos de Cinemalogia, Design e Multimédia e Estudos Artísticos.
21 de Maio, 21h45 — módulo I
Capas Negras, de Armando Miranda (1947), 103′
Um amargo e comovente melodrama de sabor coimbrão sobre o caso de amor entre uma bela tricana e um estudante de Direito, que foi um estrondoso êxito nos anos 40, com Amália Rodrigues
Em Coimbra o “quintanista” de Direito, José Duarte, e a bela tricana, Maria de Lisboa, vivem uma intensa história de amor. Terminado o curso e julgando-se traído, José Duarte abandona Maria e vai para o Porto. Recusa-se a aceitar as cartas dela e esta acaba por ser presa no Porto pelo abandono do filho. José Duarte decide defende-la, reconhecendo ao mesmo tempo, ser o pai da criança.
Armando Miranda realizou em 1947 “Capas Negras”, um dos maiores êxitos de bilheteira de sempre do cinema português. Trata-se de um amargo e comovente melodrama de sabor coimbrão sobre o caso de amor entre uma bela tricana e um estudante de Direito, de que resulta um filho e gera muitas atribulações para a rapariga até que tudo acabe bem para todos. Um pitoresco filme, recheado de amor, música e nobres sentimentos, que Amália Rodrigues domina com a sua fascinante presença e inconfundível voz.
23 de Maio, 21h45 — módulo II
Rasganço, de Raquel Freire (2001), 100′
“L’art et l’amour sont criminels en puissance — ou ne sont pas”.
Paul Valéry
Coimbra, a mais complexa de todas as personagens, conta a história:
Eu não sou uma cidade. Sou uma estufa. Uma reserva natural para estudantes, onde eles vivem em plena liberdade, como aquelas que há para animais frágeis, raros.
Em mim estão protegidos do mundo exterior.
Sou uma espécie de doce, entre a adolescência e a idade adulta. Mas só para os que estudaram para cá entrar. Os melhores.
Eles sabem que são uma elite. E que ninguém fica em mim para sempre…
Uma manhã de Janeiro chegou um homem.
Tolo, não percebeu que EU não sou para quem quer, mas para quem pode. E ele não fazia parte.
Subiu as minhas Escadas Monumentais, percorreu a minha Avenida das Faculdades, entrou na mais antiga e deparou comum “rasganço”.
Este homem seduziu as minhas três mulheres: Ana Rita, estudante burguesa; Maria dos Anjos, a estudante que veio da aldeia; Doutora Zita Portugal, a ilustre directora.
Todas o amam, nenhuma sabe das outras, ele adora aquilo tudo.
Mas não é o amor que abre as minhas velhas portas.
Neste auto, que se desenrola em forma de espiral de insecto encadeado pela luz, de maneira cada vez mais violenta, este homem vai sendo sucessivamente seduzido e rejeitado pelas pessoas, pelos sítios, pelos costumes, por todas as manifestações da minha intricada teia de fascínios e decepções, superiormente regida pela Universidade.
Excluído, usa símbolos para gritar o ódio contra mim, perverte-os. Veste o traje académico e rapta, viola, rasga no peito das estudantes os meus nomes…
A vingança quase me destrói.
Assanham-se os ânimos, as lutas estudantis em curso sofrem uma inesperada reviravolta, ninguém sabe quem é quem, ninguém confia em ninguém, nada é o que parece.
Enquanto ele, imperturbável, vai “rasgando” vítima atrás de vítima.
Animal ferido, o seu negro domina‑o, até o tornar incapaz de fazer o que melhor sabe fazer: amar.
O rápido desfecho, como nas óperas de Verdi, dá-se em ambiente apoteótico de subida de Escadas Monumentais, com estudantes em festa para “rasgarem” cerimonialmente a jovem finalista namorada dele, denúncia silenciosa da parte da velha dama de impecável linhagem académica, e chamas devoradoras ateadas pela recatada Assistente Social da província.
28 de Maio, 21h45
Amor de Perdição, de Manoel de Oliveira (1979) , 262′
Baseado no mais famoso romance de Camilo Castelo Branco, Manoel de Oliveira realiza este filme que tem como base um triângulo amoroso.
No início do século XIX, Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, pertencendo a duas famílias rivais, amam-se apaixonadamente. Teresa está prometida a um primo seu, Baltazar Coutinho. A jovem decide entrar num convento. Simão mata Baltazar e é preso. O pai, magistrado, recusa-se ajudá-lo por não lhe perdoar amar a filha do seu pior inimigo. Das respetivas celas, Simão e Teresa correspondem-se por escrito, com a ajuda de Mariana (uma jovem criada que ama secretamente Simão).
30 de Maio, 21h45
MasterClass “Cinema de/em Coimbra”, leccionada por Fausto Cruchinho Pereira
- o cinema que se faz sobre Coimbra
- o cinema que se faz em Coimbra
- “Capas Negras”, “Rasganço” e “Amor de Perdição”: a universidade do cinema
- “Amor de Perdição”: Manoel de Oliveira e Camilo Castello Branco estudantes da universidade
Fausto Cruchinho Pereira
(Universidade de Coimbra)
Doutor em Estudos Artísticos, área de especialização em Estudos Fílmicos e da Imagem, pela Universidade de Coimbra Professor Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Curso de Estudos Artísticos. Investigador Integrado do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20) da Universidade de Coimbra. Grupo Correntes Artísticas e Movimentos Intelectuais.
Inscrição
Esta actividade é realizada no âmbito do Programa Cultural da Queima das Fitas e conta com o apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual no âmbito do Projecto de Requalificação do Mini-Auditório Salgado Zenha do Concurso Ad-Hoc de 2018 (2.ª chamada).