Argélia, 1954. Enquanto a revolta ribomba no vale, dois homens muito diferentes, reunidos por um mundo em convulsão, são obrigados a fugir em conjunto pelas montanhas do Atlas. A meio de
um inverno gelado, Daru, o professor solitário, tem de escoltar Mohamed, um aldeão acusado de homicídio. Perseguidos por homens a cavalo que procuram justiça sumária e colonos vingativos,
os dois homens decidem enfrentar o desconhecido. Juntos, lutam para obter a sua liberdade. É exibido no Mini-Auditório Salgado Zenha no próximo dia 19 de Outubro às 22:00. Entrada Livre
Daru (Viggo Mortensen) é um professor idealista que apenas deseja ajudar os seus jovens alunos a crescer e ter uma vida melhor. Um dia é obrigado a escoltar Mohamed (Reda Kateb), um aldeão acusado de homicídio, até à cidade de Tinguit, onde terá de ser entregue à polícia para julgamento. Apesar da recusa inicial, Daru aceita a missão. Porém, perseguidos por homens que procuram fazer justiça pelas suas próprias mãos, os dois vêem-se perdidos no deserto. Sem escolha, eles sabem que têm de continuar o caminho, mesmo cientes das poucas hipóteses de sobreviver aos perigos da jornada…
LONGE DOS HOMENS, do realizador francês David Oelhoffen, uma adaptação de um conto, L’hôte, do filósofo franco-argelino Albert Camus – é um western inteligente e de combustão lenta,
com uma banda sonora atmosférica de Nick Cave e Warren Ellis e uma interpretação excepcional de Viggo Mortensen. (…) Mortensen faz o papel de Daru, um professor santo que trabalha na Argélia, em 1954, no começo da sua luta pela independência dos franceses. Daru ensina miúdos numa escola minúscula, no alto das montanhas do Atlas, mas este homem tem claramente mais qualquer coisa. O seu rosto curtido parece retirado das montanhas por trás da escola e
sabe manejar uma arma quando soldados franceses lhe trazem um argelino local, Mohamed (Reda Kateb), que confessou ter morto um primo, numa discussão sobre trigo roubado. Sem mãos a medir com a luta contra os combatentes da liberdade argelinos, os soldados pedem a Daru para entregar Mohamed ao tribunal, que fica a um dia de viagem. Daru recusa, argumentando que estaria a levar o prisioneiro para a sua morte. Mas quando os soldados partem e Mohamed se recusa a fugir, ele não tem muita escolha.
O REALIZADOR
David Oelhoffen nasceu em França. Realizou as curtas-metragens LE MUR (1996), BIG BANG (1997), EN MON ABSENCE (2001), ECHAFAUDAGES (2004) e SOUS LE BLEU (2004) e a longa-metragem NOS RETROUVAILLES (2007). LOIN DES HOMMES / LONGE DOS HOMENS (2014) é o seu último filme.
DECLARAÇÃO DO REALIZADOR
Desde a primeira leitura do conto de Camus, L’hôte, visualizei um western. Um western não convencional, é certo, impregnado de história europeia e tendo como fundo as terras altas do norte de África, mas ainda assim um western. Fiel aos códigos, há colonizadores e colonizados, um prisioneiro a escoltar e uma trama que desagua em violência. No centro da história e dos seus personagens encontra-se uma colisão entre dois sistemas jurídicos. Testemunhamos duas culturas e duas morais forçadas a coexistir pela história. Tinha sonhado com ir buscar o Viggo Mortensen.
A sua singularidade encaixava perfeitamente no papel. Reda Kateb – misterioso, opaco e com os pés no chão – funcionava como contraponto perfeito. A paisagem desértica assume o papel de personagem, na história. Sob a luz radiante do norte de África, constituía uma companhia bela mas imprevisível para o filme.
Adaptar esta história ao cinema implicava dotar os personagens de mais substância e tornar a narrativa mais densa. Uma das formas de o fazer foi incluir o contexto argelino e o começo da guerra. Mas a maior mudança foi alterar a natureza da relação entre Daru e o jovem argelino, que resultou num fnal claramente diferente para a história de Camus.
Sempre com a ideia de conservar o espírito de , cujas preocupações me parecem muito actuais: preocupações acerca da humanidade, a denúncia da injustiça e, acima de tudo, a difculdade do compromisso moral.
A trajectória de Daru é também a de um homem que quer salvar outro, apesar de ele ser um criminoso, mas eu queria intensificar a energia que Daru despende a convencer o prisioneiro a não obedecer à lei da sua comunidade, nem a entregar-se à igualmente injusta lei dos colonizadores.Também imaginei um personagem mais atormentado e maltratado do que no original, um homem que tinha vivido a guerra e que queria fugir à violência, um homem carregado de pesar, que o impele a abrigar-se da vida. E, por último, um homem com uma identidade dolorosa: filho de espanhóis, é um europeu e visto como tal pelos aldeões, mas não se esqueceu de que, uma geração antes, os seus pais andaluzes eram considerados “árabes”.
No caso de Mohamed, eu sobretudo não queria que o personagem fosse a figura do árabe perturbante, tão misterioso e opaco como na história original, mas antes um homem com as suas razões, a sua própria moral e que se abre gradualmente ao que Daru propõe – a possibilidade de agir por si, enquanto indivíduo.
Notas da Crítica
“LONGE DOS HOMENS descarna a narrativa, fica-lhe só com o osso, e esse “osso” é universal: um território não dominado, quase selvagem.” — Público
“Fiel, não à letra, mas ao espírito de Albert Camus, do qual adapta um conto, L’hôte, o cineasta dirige os actores com uma delicadeza rara.” — Télérama
“É, simplesmente, um grande western tradicional: a língua e os detalhes culturais podem ser diferentes, mas a elegância esparsa e os dilemas morais são familiares e tão sugestivos como sempre (…). LONGE DOS HOMENS é, de forma discreta, um filme grandioso e belo.” — Indiewire
“O que faz com que funcione é a eficiência solene com que o realizador David Oelhoffen conta a história e a intensidade silenciosa dos dois protagonistas: a ternura rude do olhar de Mortensen contrapõe-se bem ao comportamento conflituante de Kateb.” — New York Magazine
Camus estabelece o rumo inicial do filme, mas Oelhoffen leva‑o firmemente a bom porto com contexto político, análise histórica retrospectiva, um imperativo moral inequívoco e um par de interpretações bem emparelhadas. Dito de outra forma, apropria-se da história. — New York Times
Ficha Técnica