Em “Banho de Paragem” vimos a última obra realizada em contexto do nosso curso de iniciação à realização, vendo os conhecimentos adquiridos colocados em prática pelo grupo de alunos de “Cinemalogia 5”. A animação “#LINGO”, de Vicente Niro, exibe-nos a ambição substantificada do criador. Tendo sido vencedor da Selecção Ensaios da última edição do festival, mostrou-nos este ano novamente a sua obra. Iniciando a sua participação nos Caminhos em ocasião de estudante, hoje mostra-se com maturidade profissional e já como referência da animação nacional, dando actualmente formações na área. Com “Refrigerantes e Canções de Amor”, uma comédia musical, tivemos o início da nossa competição da Selecção Caminhos, apresentando-nos uma simbiose entre o filme e a música, o amor e a imaginação, a ingenuidade e o receio de gostar. Um filme que entretém e inspira e por isso com a capacidade imediata de conquistar o espectador.
Ainda dentro da temática da fusão das artes pelo cinema, importa dar relevância aos filmes “Landing” (Filipe Martins) e “Eldorado” (Rui Eduardo Abreu, Thierry Besseling e Loïc Tanson) que enriqueceram a nossa percepção de dança contemporânea, da performance artística e da estética no movimento. Estímulo da imaginação criativa, levaram o espectador numa viagem profunda pela crítica social (e interventiva) tendo a dança e o cinema como instrumento de divulgação da mensagem de cerne.
Luísa Sequeira mostrou-nos o seu documentário “Os Cravos e a Rocha”, dando-nos a conhecer Glauber Rocha e o seu trabalho de cineasta atento e crítico, no momento de uma revolução desconhecida por muitos e incompreendida por uma outra parte. Um alerta para a necessidade de consciência política e social, da revolta de dentro para fora e não de fora para dentro. De tomada de posição baseada no real e não apenas no idealizado colectivamente.
A semana foi iniciada com uma sessão dedicada à mulher, tendo como ponto forte a produção da SP do “Jogo de Damas” (Patrícia Sequeira), que manifesta a cumplicidade e amizade infrangível de um grupo de amigas. Esta obra consegue expor a mulher como um todo, personificando as suas várias possibilidades de faceta pelo grupo de intérpretes que compõem o filme.
A adolescência e início de adultícia são pautados pela descoberta, pela procura do desconhecido, pelo decifrar do meio e do outro. É o encontrar da cumplicidade e da amizade, que nos são mostrados subtilmente em “Rochas e Minerais” (Miguel Tavares). Em “Pedro”, André Santos e Marco Leão levam-nos ao sentimento de carência, da solidão, da necessidade e procura do toque, da indagação de uma cumplicidade dificilmente alcançável. Um filme que deambula entre a promiscuidade da vida e a praia do isolamento profundo imposto pelas emoções caóticas.
Manuel Teixeira Ribeiro representou um marco na cultura política portuguesa, apesar de ser desconhecido pela maioria. Um representante do vanguardismo cultural e político, um artista e presidente da república que se demitiu pela pressão exercida em cima de si por uma moral judaico-cristã nefasta para a sociedade. “Zeus” (Paulo Filipe Monteiro) é um filme que instrui e aspira o alento da possibilidade de uma política em Portugal pautada pela arte e pelo pensamento progressista.
Dias recheados de cinema português, de imagens marcantes, de arte exposta em ecrã e disponível a qualquer espectador.
Um até já,
João R. Pais,
Selecção Caminhos