Bicicleta de Luís Vieira Campos
Produtora: Filmes Liberdade
O bairro do Aleixo, no Porto, é um lugar de mitos onde a sociedade tende a radicar problemas de sete cabeças. No entanto, para tantos que lá vivem, o bairro ergue-se como um lar, o lar de sempre, posto ali ao pé do rio, as vistas largas e generosas, sem maior sobressalto. Bicicleta parte do conceito de vizinhança e de família, a sobrevivência definida por princípios de alteridade que, no cenário de um bairro tão mitificado, ocorrerá com a naturalidade inevitável ao ser humano. É um filme sobre o lado popular da vida, essa partilha de um espaço que se vai imiscuindo no quotidiano de cada um, criando uma interdependência que propaga notícias e cria situações tanto dramáticas quanto divertidas. António vê-se subitamente na sorte de ter um emprego pelo qual tanto procurou. Maria, a esposa, desconfiada dos azares, ajuda‑o no que pode para que garanta aquele cargo e traga para casa um salário. Entretanto, sustentam ainda a mãe de António, velha e doente que promete sucumbir, e Guilhermina, a filha do casal, que vive iludida com as brincadeiras de criança. Contando com Blandina, a bruxa do prédio, a família vai-se desgraçando em crenças e má sorte que, acentuando o desfavorecimento laboral, resultam num crescendo trágico. Gorete, a vizinha que faz negócio montando uma espécie de mercearia a partir da sua janela de cozinha, funciona como a última hipótese de financiamento para combater o cada vez mais inevitável desespero de António e dos seus. Entre momentos mais difíceis e passagens de um divertido cruel, a história de António é montra para a realidade dos trabalhadores menos protegidos da pirâmide laboral. É uma reflexão sobre o instinto de sobrevivência e a extrema defesa da dignidade que mostra ainda o bairro do Aleixo como uma cidade vertical, vendo o interior das torres como ruas ao alto, onde a sorte dos cidadãos se resolve tão longe de um Portugal dito convencional.