‘Gaiola Dourada’ (‘La cage dorée’), de Ruben Alves, retrata a história de Maria (Rita Blanco) e José (Joaquim de Almeida), um casal português, uma porteira e um faz-tudo, que há 30 anos emigrou para Paris em busca de uma vida melhor do ponto de vista laboral e social. Comum a esta biografia encontrar-se-ão uma série de portugueses, que tentaram procurar um trabalho assalariado estável, acabando por construir a sua vida nessa França multicultural. Maria e José serão, então, uma caricatura de todos esses casais que nos anos 1970 escaparam da fúria revolucionária, de um país sempre à beira do precipício, tendo dentro de si o espírito dos egrégios avós, mas filhos assumidamente franceses e repugnando toda uma cultura da qual se envergonham, no caso Paula e Pedro. A primeira, noiva de um francês de gema, o segundo um adolescente que se tenta integrar no ensino secundário, onde ser filho de português é motivo de crítica.
Tudo se altera aquando da recepção de uma notificação sucessória: o irmão de José falecera e este poderá receber uma avultada herança, sob a condição de regressar para Portugal a título definitivo. Este é o mote do enredo: a dialéctica cultural estereotipada entre Portugal e França.
Aquando do início da publicidade de ‘Gaiola Dourada’ com o seu trailer, uma coisa seria certa: tratar-se-ia de uma filme sobre chavões e lugares-comuns. O golpe de sucesso estava também anunciado, pois a sua estreia fora marcada para início de Agosto, altura em que Portugal recebe de braços abertos os seus emigrantes que facilmente se identificam com tal obra, rindo-se de si próprios sem saber.
Este filme dá-nos a oportunidade de olhar a comunidade de emigrantes de um ponto de vista muito especial, que é o deles mesmos. Porém, aquilo que pensamos que é um filme sobre lugares-comum torna-se, em si mesmo, um lugar-comum. Lamentavelmente não consegue ser aquilo que pretende, não chega a ser uma abordagem sobre a comunidade emigrante, não chega a ser uma comédia original, não é um filme tipicamente português, nem francês. Arrisco dizer que é um filme de linhas americanas ‘à comédia romântica’ sobre portugueses a fazerem-se passar por franceses. Claro que se destacará sempre o papel de Rita Blanco, que nos leva a crer que o filme ainda valerá o sacrifício de assistir aos restantes actores terrivelmente mal dirigidos. A banda sonora também se destaca pela positiva, do início até ao seu final enfadonho.
Existem uma série de obras cinematográficas que abordam lugares-comuns, mas sem caírem no ridículo de se tornarem num. Os retratos sociais, sejam eles sérios (vide ‘This Is England’, de Shane Meadows, ou mesmo ‘Kids’ de Larry Clark) ou com uma conotação mais cómica e assumidamente comercial (‘Almost Famous’ de Cameron Crow), são difíceis de abordar. Mas haverá sempre espaço para filmes de verão sobre emigrantes como estes, que farão coincidir com os outdoors das instituições bancárias, também eles a receber o dinheiro desses nossos fieis heróis do mar, com paladar a bacalhau e saudade desta nação valente.
O que francamente se deve reconhecer deste filme é que tem levado portugueses a ver cinema português, independentemente da qualidade discutível do mesmo. E isso é admirável.
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J.R.P.
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